Férias frustradas – O golpe da casa na praia
Flávio Tasinaffo
18/10/2019 04h00
"Os golpistas se apropriam de fotos publicadas em anúncios de grandes sites de classificados e negociam como se os imóveis pertencessem a eles. E não são quaisquer imagens. Ao contrário, eles pesquisam por sítios, casas e apartamentos luxuosos e em excelente localização. Quando uma vítima entra em contato, o estelionatário já sabe que poderá sugerir um valor final alto e, portanto, se conseguir o depósito de um sinal de 10%, já estará satisfeito", foram estas as primeiras considerações do corretor de imóveis Valmir Akkari – Creci 165582, no ramo há 20 anos, sobre o golpe da casa na praia.
"Ouvi relatos de muitas vítimas, que perderam não só dinheiro, mas tempo também", comentou Akkari, que nos falou sobre as características dos criminosos: "Eles falam muito bem, são articulados, demonstram empatia, segurança e até conhecimento jurídico. Acima de tudo, pressionam a vítima para que ela sinta como se não pudesse perder o negócio e queira fazer a transferência do sinal o mais rapidamente possível. Depois, quando já estão com o dinheiro na conta, eles descartam o telefone utilizado nas conversas e desaparecem", explicou o corretor.
Dados do Ministério do Turismo revelam que 24,3% dos brasileiros pretendem viajar nos próximos meses. A concorrência para alugar um imóvel no litoral ou no interior aumenta com a proximidade das festas de final de ano, o que obriga aos interessados já iniciarem suas pesquisas.
"O Réveillon é, definitivamente, o período de maior procura, e também é quando os golpistas atuam mais fortemente. O estelionatário adquire um número de telefone em outubro, anuncia uma casa para locação no Réveillon e, até meados de dezembro, aplica o golpe em várias pessoas, arrecadando o máximo de dinheiro que puder. Depois, inutiliza o chip do celular, e ninguém mais o encontra", disse Valmir Akkari.
É preciso muito cuidado para que, parafraseando Carlos Lyra, "o descanso do guerreiro, que merece todo trabalhador", não se transforme em um pesadelo.
Os golpistas utilizam a tecnologia de maneira predatória e a seu favor. "A coisa mais fácil do mundo para o golpista é pegar as fotos de um imóvel, pois muitos sites especializados não colocam marca d'água nas imagens, o que é uma solução simples e que minimiza a possibilidade de fraude", diz o corretor que nos apoiou nesta reportagem.
Mas o golpe é antigo e não se restringe a imóveis de temporada. Há alguns anos, os estelionatários anunciavam em jornais de grande circulação. São criminosos utilizando fotos de imóveis que não lhes pertencem, que já estão alugados ou que, talvez, sequer existam no endereço anunciado.
Um colaborador do portal Tudo Golpe conta que, há algumas décadas, quando era criança, a casa em que morava, de propriedade dos pais, foi utilizada em um golpe. "Deu dó. Eu me lembro que era domingo, estávamos almoçando, e uma senhora tocou a campainha. Ela queria visitar a casa que havia recém comprado. Meu pai a atendeu e disse que a casa não estava à venda. Ela tinha falsos documentos em mãos e fotografias da nossa casa. Quando soube que havia caído em um golpe, contou-nos que havia perdido as economias de uma vida inteira e começou a chorar".
A advogada Fernanda Tasinaffo, especialista em direito digital, deu algumas dicas para os nossos leitores:
- Confirme a existência do imóvel escolhido
Se possível, vá até o endereço. Esta é uma das orientações mais importantes porque, neste golpe, os criminosos costumam selecionar locais distantes, exatamente para evitar que o interessado faça esta visita. Se não puder se deslocar, utilize um dos mecanismos virtuais para verificação, como o Google Street View. Procure observar se há estabelecimentos comerciais próximos e ligue nestes lugares –o objetivo é saber se o imóvel que você está alugando realmente existe.
Mas, fique atento: o corretor Valmir Akkari nos contou que há casos em que, para transmitir segurança, os golpistas dizem para as vítimas que elas podem visitar o imóvel previamente. "Eles [os golpistas] fazem isso para transmitir credibilidade e porque não têm nada a perder. Eles blefam porque sabem que a maioria das pessoas acaba não indo".
- Exija um contrato
Solicite a elaboração de um contrato assinado por ambas as partes e que estipule todas as informações pertinentes à locação, como período e valor. É uma forma de garantir a segurança da relação jurídica se houver algum problema.
- Muito cuidado com pagamentos antecipados
É comum que os proprietários solicitem o pagamento adiantado como forma de garantir a reserva do imóvel. Normalmente, pedem 50% para a reserva e a outra metade no momento do check-in. Quando se trata de um golpe, o criminoso desaparece com o sinal, resgatado normalmente de uma conta aberta com documentos falsos ou em nome de um "laranja". Portanto, o melhor a fazer é procurar por intermediadores, corretores de imóveis ou sites especializados que possuam garantias e proteção para o seu pagamento.
- Atenção na hora de conversar com o proprietário
O criminoso virtual, de modo geral, trabalha com textos prontos para enviar para todas as vítimas. Então, tente reparar em erros grosseiros, analisando todo o conteúdo da troca de mensagens. Inclusive, ligue para o suposto proprietário e procure extrair o máximo de informações possíveis para confirmar se não há nenhuma inconsistência em relação ao texto. Aproveite para avaliar se ele responde com clareza e convicção a todas as suas perguntas.
O Tudo Golpe acrescenta outras orientações:
– Faça pesquisas sobre o proprietário do imóvel. Peça o número do CPF e a data de nascimento e realize uma consulta no site da Receita Federal.
– Prefira conversar em um telefone fixo, dificilmente utilizado em golpes como este.
– Solicite o envio de uma conta de consumo, luz ou água do imóvel que será alugado. Analise-a atentamente para certificar-se que não foi falsificada.
– Peça o envio de uma selfie do proprietário em frente ao imóvel.
– Combine com um amigo para que ele tente alugar o mesmo imóvel, no mesmo período que você. Se for um golpe, certamente o estelionatário não perderá a oportunidade de aplicá-lo em mais pessoas.
– Desconfie se a conta informada para depósito for do tipo "poupança".
– Não faça depósitos e transferências para pessoas que você não conhece sem ter se cercado de todas as garantias de que não irá perder seu dinheiro para um golpista.
Estas ações, isoladamente, não lhe trazem garantias. Esgote todas elas. Afinal, você se esforçou e reservou dinheiro para este momento e quer que dê tudo certo. Com estas precauções, sua única preocupação será em preparar o melhor roteiro para sua viagem.
Sobre o Autor
Flávio Tasinaffo é advogado, pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal Econômico e tem 35 anos de experiência no segmento de prevenção à fraudes
Sobre o Blog
O blog Tudo Golpe é a extensão de um projeto criado por Flávio Tasinaffo (http://tudogolpe.com.br/) com o objetivo de alertar e ajudar as pessoas a não caírem em golpes rotineiros.